quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sem adeus

A garoa caía serenamente sobre o asfalto disfarçando o que antes havia sido uma tempestade de proporções diluvianas. A noite escura sem luar cobria densamente a mata e toda a estrada exceto onde as trevas eram interrompidas pelas luzes vermelhas, azuis e amarelas emitidas pelos carros da polícia e bombeiros.

A medida que o sedan se aproximava lentamente, a visão se tornava cada vez mais assustadora, quando ela estacionou o carro deu para ver o esportivo batido na árvore logo após a curva. Sem acreditar ela desceu do carro, tremendo como nunca antes, ao se aproximar do local do grave acidente foi abordada por um policial:

- Você é a namorada?
- Sim - respondeu com voz embargada.
- Ele ainda está no carro, pediu para te ver, já faz uns 40 minutos que está lá. Por favor evite olhar para dentro do carro e cuidado com as palavras, ele está lúcido e infelizmente estas podem ser as últimas que ele ouvirá.

Ela desceu o declive não acreditando no que estava acontecendo, que aquele momento tinha chegado, não podia, não era hora, não assim... a cena era terrível, o metal retorcido, amassado como uma lata de sardinha. Ele estava com a cabeça escorada no encosto do banco olhando para fora:

- Oi linda - disse ele com certa dificuldade.
- Oi - ela tentava segurar o choro - que aconteceu?
- Não sei, estava chovendo muito forte, estava devagar mas fizeram uma ultrapassagem e tive que desviar. Malditos esportivos, a lataria não aguenta um chute mesmo...
- Dói?- perguntou já sem conseguir segurar as lágrimas.
- Agora não, não mais. Não chore
- Eu amo você.
- Por que não disse antes?
- Não sei, tinha medo...
- Ao que parece, é uma revelação um pouco tardia - custou a dizer.
- Desculpe...
- Não se desculpe - interrompeu fazendo uma força hérculea para falar - eu amei por nós dois.

Não houve um adeus. A última frase dita por ele ecoava na cabela dela que ficou por um instante sem lágrimas olhando o rosto dele de olhos fechados, sem conseguir acreditar que nunca mais iria acordar e perceber que eles estavam abertos com um sorriso nos lábios a "vigiando" enquanto ela dormia. Simplesmente não conseguia acreditar que aquilo não era um pesadelo.


Levemente inspirado em Last Kiss do Pearl Jam com um toque da cena do acidente do filme Sinais.

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