Eram caminhos totalmente opostos e fatalmente incomunicáveis.
Porém, Deus, que tudo vê, tudo sabe e está em todo lugar, se encarregou de propiciar que eles se esbarrassem.
O cenário, tal qual a chance dos caminhos se cruzarem era improvável. Salvo engano, era um fim de tarde, calçadão de uma praia qualquer do litoral do Brasil, no final do ano de 1999 ou 2000. Ele eram do interior e ela da capital, e em duplas distintas, caminhavam alheios a presença um do outro, cada um com seu amigo, porém próximos, conversando os assuntos pertinentes às suas próprias vidas.
Até que ele disse algo que despertou a curiosidade, algo que por incrível que pareça fazia parte da realidade de ambos, ou nem tanto. Ele reclamava exatamente da forma que os habitantes da região metropolitana e da capital conversavam de maneira peculiar e até irritante, beirava o ridículo o rapaz do interior, de sotaque preguiçoso e carregado, falar uma coisa dessas, mas ao que tudo indica, se ele não tivesse falado, os caminhos impossíveis não se tornariam cruzados.
Ela, prontamente saiu em defesa de si e seus contrrâneos: "Opa não é bem assim não", logo o assunto começou e o que antes eram dois amigos caminhando a beira mar se tornaram quatro conhecidos, que em comum, somente serem do mesmo Estado, caminhando na mesma praia.
Óbvio, o tempo me fez perder alguns detalhes, que até poderiam ser importantes para esta narrativa, mas não me lembro bem o que aconteceu imediatamente depois.
Sei que no mesmo dia ou no próximo, os jovens acompanharam as meninas até seu flat que ficava em frente uma praça. Acho que era uma praça. Não sei porque me lembro de um orelhão. por lá ou coisa assim. Não lembro quantas vezes mais eles se encontraram, mas lembro muito bem que naquela época não se perguntava "Qual seu MSN?" "Qual seu facebook?" As pessoas pegavam telefone e trocavam endereços para se corresponderem. E assim foi feito.
Ela fez o primeiro contato, e o segundo, e o terceiro... não me lembro do garoto ter enviado uma carta sequer, mas não era porque ele não queria, ele possuía uma mãe controladora que não assimilou bem a "amizade" de verão do filho. A moça, heroicamente, perseverou por muito tempo, até não suportando a repressão da mãe do rapaz, decidiu desistir disso tudo. Não foi fácil., claro. Ela até mandou convite da formatura do curso técnico que fez com muito esforço mas não obteve resposta. Nem sequer um obrigado. Que monstro esse nosso rapaz.
Mas o destino, ah o destino, esse sim sabe pregar suas peças e arquitetar verdadeiras histórias que se contar numa mesa de bar ninguém acredita. "Isso? Só em novela mexicana".
Pois foi exatamente a profissão escolhida por nossa heroína que fez com que os dois meninos se reencontrassem, sei lá, uns seis anos depois? Quis o Senhor do Tempo que ela fosse realizar um trabalho na cidade do rapaz, desta forma se encontraram de novo. Quase inacreditável, como é bacana saber que certas coisas resistem ao tempo. Ele participou de um evento da empresa na casa dela, ela foi no aniversário dele (inclusive deu de presente, um dos perfumes que ele mais gosta e continuou usando), foram poucos encontros, mas valeram pra reforçar o que eles já sabiam "isso é pra sempre", não importa o tempo, nem a distância.
Pena que foi por pouco tempo. O mesmo destino que fez com que se encontrassem de novo, quis separá-los, sabe-se lá por quanto tempo agora.
Cada um seguiu e vai seguindo o seu caminho, mas parece que sempre junto, fazendo jus àquela música (que por sinal eu odeio) que diz "quem foi que disse que pra tá junto precisa tá perto?". Acho que ambos sabem que mesmo longe, eles estão perto um do outro, porque há um elo real, um elo de carinho, afeto, respeito, consideração ou seja, de amizade que os une. E unirá.
Enquanto o destino brincalhão prepara um novo encontro, sigam seus caminhos, só não se esqueçam que podem contar um com o outro e que nem tudo nesse mundo acaba.
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Esse texto começou a ser escrito ano passado, exatamente em 16/05/2010, demorei, demorei, demorei e não ficou bom como precisava e como a história merecia.